terça-feira, 18 de maio de 2010

Rolimã só para loucos!

Matéria para a edição de Maio da Revista Ragga!

Por Teca Lobato


Para esta edição ficar nostálgica mesmo, só assim. E é claro que eu seria a cobaia de testes do brinquedinho, sabiam que eu toparia na mesma hora e o pessoal da Ragga me chamou para relembrar os velhos tempos. O segundo passo foi chamar mais três loucos para uma sessão de descidas em carrinhos de
rolimã. Se você teve uma infância completa, vai sentir inveja. Caso contrário, me desculpe, mas você não foi inteiramente criança.


Vai Juninhooooo!

Para convidar o primeiro, louco pensei na minha fase rolimã. Devia ter uns seis anos e vivia com meus primos mais velhos descendo uma pirambeira de minério no sítio do meu avô, e quem se destacava nas descidas era a Renata. Não só nesse aspecto, mas ela tem um histórico terrível de ausência de medo e lembro as brincadeiras maléficas a mando dela como ovo no meu travesseiro, de sequestros de outros primos, pimenta na mamadeira...



Vai Rê! De unha vermelha e dando o bina no Juninho!! hahaha

Isso tudo me fez pensar que uma voltinha de rolimã com ela seria a vingança perfeita. E a primeira convidada, casada e com dois filhos pequenos. O segundo louco é pau para toda obra quando a atividade envolve pranchas: o amigo de longa data, Juninho. Para se ter uma idéia do nível da loucura, na segunda vez em cima de uma prancha de wakeboard, o maluco tentou uma cambalhota.


O bobice!!!

Para fechar a barca “nada com nada” o skatista old school Alexandre Dota. Pai dos skatistas Jeferson Bill, Hugo Blender e Coyote, ele manda ROCK´N’ROLL[*] no bowl do Anchieta. Isso, para minha pessoa, é, definitivamente, uma atitude destemida, portanto confiei no time e a primeira atividade foi passar na marcenaria do Toninho, a Toniarte.

Com experiência de 28 anos na marcenaria, Toninho está acostumado a viabilizar vários projetos de móveis. Em todos esses anos contou que não houve um pedido para que fizesse um carrinho de rolimã, por isso se entusiasmou com o pedido da Ragga. Nos encontramos na marcenaria e descobrimos mais sobre a arte de produzir um carrinho de rolimã. Com adaptações interessantes, como uma única roda na frente e a ausência de freio, percebi que o brinquedinho de lerdo não tinha nada e senti a ansiedade no ambiente.


Toninho mostra como se faz!



Já com os carrinhos, partimos para o Alphaville, em Nova Lima. Descidas! Logo na primeira e maior ladeira fizemos o teste e o medo foi se misturando com a euforia, até que ele desapareceu. Todos riam extasiados de alegria, subindo a ladeira foram tantas as risadas de comemoração rumo à próxima descida que fiquei até pensando no poder que o carrinho teve de acessar o lado das lembranças em nossos cérebros.

O excepcional fotógrafo de esportes Carlos Hauck de bobo não teve nada quando alegou que precisava tirar as fotos descendo no carrinho também, ótima ideia já que esperávamos o Juninho chegar. Por incrível que pareça os loucos acharam que precisavam de uma ladeira mais íngreme, então, dei a ideia de irmos para o famoso Funil, palco de vários campeonatos de downhill speed.



Como é fácil me fazer rir!


Mas eu não contava com a astúcia de todos eles e imaginei que ninguém arriscaria descer do topo. Tarde demais, o Dota iniciou a descida, em seguida foi a Renata. Antes mesmo de perguntar se ela faria, realmente,
isso, só acompanhei os segundos de descida e ultrapassagem do Dota. Percebi que com medo só tinha euzinha, mas orgulhosa demais para admitir, fui logo em seguida.
 
Para completar toda a insanidade da turma, chegou o Juninho, que logo achou seu carrinho e desceu sem testar ou hesitar o temido Funil. Não demorou para que a ideia que eu mais temia surgisse e sem mais delongas começamos a apostar corridas fazendo a curva fechada que rendeu notoriedade a famosa ladeira.


Dota enfrenta sem maiores preocupações o Funil.


Várias pedrinhas no caminho nos desafiaram e sem perceber negligenciamos os perigos de andar em um asfalto muito sujo. Hora ou outra uma porca do carrinho voava e para frear nos despedimos dos nossos tênis sem hesitação. Muitos skatistas cheios de estilo passaram por nós no Alphaville e quando percebiam a nossa média de idade demonstravam choque e incompreensão, provalvemente pensando “Será que devo mostrar para eles que hoje em dia existem skates modernos para descer ladeiras?”.

Um caminhoneiro ao passar pela estrada não se conteve, gritava e buzinava simultaneamente em solidariedade. Provavelmente nos assegurando que esse é um amor legítimo e que mesmo antiquado vale a pena investir. Eu só sei que me diverti de um jeito que justificou nosso desespero para fazer uma descida após a outra, igualzinho acontecia nos “tempos de rolimã”.