domingo, 18 de abril de 2010

Jogos Sul - Americanos de Medellín, Colômbia

Por Teca Lobato
Fotos Mário Manzolli

Quando tive a notícia de que fui convocada pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) junto com a Camilla Ortenblad, Marcelo Giardi (Marreco) e Mário Manzolli (Marito) para os IX Jogos Sul – Americanos de Medellín, Colômbia, fiquei sem saber a dimensão de um evento como esse. Foi só quando recebi uma mala de uniformes do Brasil em casa que senti a pressão e não parei um segundo de me perguntar se aquilo tudo estava realmente acontecendo por que nós andamos de wakeboard.



Ir para a Colômbia nunca passou pela minha cabeça. Apesar da América do Sul estar no topo dos meus destinos preferidos, o país não sei por que ficou um pouco esquecido na hora de priorizar meus destinos turísticos preferidos. E é por essas e outras que agradeço todos os dias pela minha vida e pelas oportunidades que tem surgido.


Medellín

Para chegar a Medellín, cidade de Botero e Gabriel Gárcia Marques, passei pelo aeroporto de Confins, Guarulhos, do Panamá (essa escala eu ainda não entendi) e finalmente, nove horas de viagem depois, Colômbia. Mesmo viajando tantas horas, tive recompensas que só um vôo diurno pode te proporcionar, pedi para sentar na janela e tive uma das vistas aéreas mais legais da minha vida, o mar azul do Caribe bem perto do aeroporto do Panamá.

Já no avião dava para notar o clima de descontração que eu não esperava dos outros atletas, esportes como natação, ginástica, Handball entre outros ajudaram a formar a delegação de mais de quinhentos atletas enviados para representar o Brasil. No wakeboard, um esporte que de Olímpico nunca teve nada, a informalidade é uma característica básica, comecei a perceber que a diversão garantida não era exclusividade nossa.
Praça do Botero em Medellín

Chegando lá descobrimos que na verdade nos hospedaríamos na Sub-Sede dos Jogos na cidade vizinha Rio Negro. Uma cidade tranqüila e acolhedora, o Hotel melhor ainda, em frente ao lago onde aconteceriam as disputas do Ski e Wakeboard. Calculei uns 30 passos da porta do hotel até o lago que mais parecia artificial de tão pequeno e na medida para a raia da competição.

Ouvimos mais tarde que nós do Wake e Ski éramos privilegiados e que a Villa Olímpica de Medellín seguia a risca o lema dos jogos “Simplicidade e clareza” e foi toda construída tendo em vista sua utilização posterior por famílias carentes. Um exemplo de planejamento e responsabilidade social que me fez olhar para eventos como esse com outros olhos.



Competições

As competições de Wakeboard propriamente ditas aconteceriam em apenas dois dos oito dias que ficamos hospedados no Club Campestre de Llanonegro. Afastados dos outros competidores de outras modalidades, nos desdobramos para encontrar atividades para distrair do nervosismo. Treinamos dois dias antes das eliminatórias e descobrimos já no lugar que de cada país só um competidor passaria para a final, independente do nível.

S-Bend do Marreco na marola mínima!

Foi aí que minha ficha caiu. Acordei no dia das eliminatórias entendendo perfeitamente a expressão “frio na barriga” e tentando ao máximo alcançar a concentração máxima do Daniel San (Karatê Kid burro!). Já com a prancha no pé, apertei o botãozinho de automático e fui. Acertei minha passada toda, mesmo caindo na primeira volta e passei para as finais em segundo lugar, quanta felicidade!


Eu!

Passada a primeira tensão das eliminatórias, fui praticando todas as atividades que me detraíssem do inevitável, as finais. Pedalar com pneu murcho a 2.300 metros de altitude, ser mais de uma em uma mesma foto noturna com tempo de exposição prolongados e ótimo flash do Marito, conhecer Medellín, ficar conversando alto no quarto do hotel até cinco da manhã e irritar toda a América do Sul hospedada nas proximidades, entre várias outras atividades.

Isso é ser duplo em uma foto!

O Marito e a Camila mesmo ficando com colocações que garantiriam a vaga na final, não passaram por causa da regra que elimina um atleta de cada país. Portanto era eu e Marreco na final, tensão total e os caras do Comitê Olímpico na platéia. Minha passada foi boa, caí em uma manobra o que acabou me prejudicando no final. Já o Marreco fez o recorde de passada e conseguiu colocar mais de nove manobras em cada volta enquanto cada atleta fazia cinco.

Marreco ouro!!

Conseguimos as duas medalhas, eu fiquei com o bronze e o Marreco com o ouro. Vestimos o uniforme de pódio e esperamos pela premiação de cada categoria. Cheio de formalidades, foi o pódio mais diferente da minha vida, mas o mais emocionante também. Na hora do Marreco, fiquei batendo as fotos para esconder o choro ao ouvir o hino.

No fim do dia todos os atletas se reuniriam em Medellín para a festa de encerramento dos jogos e para o desfile de cada delegação. É claro que nós brasileiros nos atrasamos e o ônibus já com todos os atletas teve que parar no meio do caminho para nos esperar. Chegando no lugar, nos organizamos na fila do Brasil e entramos no lugar onde aconteceriam as apresentações de encerramento.

Desfile do Brasil no encerramento dos Jogos!

Os Colombianos ficaram loucos! Em todas as partes era um tal de fotito e autógrafo que por um momento até cheguei a achar que eu era o Ronaldo fenômeno e não sabia. É claro que eles não tinham nem idéia o que era wake e muito menos quem éramos nós, mas o uniforme por si só já era uma celebridade.



Isso tudo é por quê?

Viajar para Medellín com tudo pago, conhecer um pouco da cultura e da beleza da Colômbia que vai muito além da violência, representar o Brasil mesmo praticando um esporte de prancha. São algumas das razões que me fizeram sentir privilegiada por participar dessa transformação nos esportes olímpicos.

Eu comemorando o bronze!

Além de todos os benefícios de representar o país, além de todos os sentimentos egocêntricos de se achar útil, sentir o peso de uma medalha no pescoço em um evento como esse é uma vitória pessoal e uma etapa que nunca pensei em alcançar. Uma viagem que vai marcar minha vida e vai ser uma história que sempre vou contar.

Mais fotos e o diário da viagem em http://revistatpm.uol.com.br/notas/diario-da-teca-1deg-dia.html

Nenhum comentário: